Ontem assisti “Killer Joe”, havia visto um tempo atrás que a “Teorema”, revista de crítica cinematográfica, trazia uma crítica sobre o filme e antes de lê-la resolvi assistir e tecer minhas impressões. Do diretor, William Friedkin, eu não conheço nenhuma de suas obras, nem “Exorcista” eu assisti, os últimos filmes dirigidos por ele foram “The Haunted” e “Bug”, ação e terror respectivamente. E “Killer Joe” faz parte do primeiro gênero, apesar de trazer algumas doses de suspense.
A história gira em torno de um assassinato pago que Joe vai fazer a pedido dos integrantes de uma família bastante desestruturada, que vê no seguro da ex-mulher uma possibilidade de sair da miséria e quitar uma dívida que o filho tem com um traficante da região. Mais interessante do que acompanhar a história é acompanhar o personagem central. Matthew McConaughey como Joe consegue uma atmosfera dura, sensual, firme, cínica, demonstrando não ser homem de conversa. Mas a mesma dureza que assume com todos a sua volta ele não assume para si mesmo, para o tesão que sente ao conhecer Dottie, filha mais nova da família, talvez até paixão, uma vez que sua reação no fim do filme demosntra certo ar de carinho e vislumbramento. A todo momento temos certeza de que Joe está no comando da situação, mas ao fim da trama ele descobre em Rex (personagem que aparece apenas nos discursos dos personagens), amante de Sharla Smith nova esposa da família em questão (Gina Gershon), uma mente habilidosa que se utiliza da ingenuidade e confiança de praticamente todos os membros da família para incitar o assassinato dessa ex-mulher, que ele também estava namorando e que acaba por deixar todo o valor do seguro de vida pra ele. Mas Joe descobre toda a trama antes de Rex fugir.
Joe tem uma maneira bastante tranquila e perversa de destruir seus desafetos. Numa das últimas cenas ele humilha Sharla fazendo a chupar uma cocha de frango imitando seu pau, com o rosto já todo marcado pelos golpes físicos que ele havia dado nela alguns momentos antes. Isso porque ele consegue fotos de Sharla chupando Rex. Mas também usa esses macetes psicológicos para atrair a confiança de Dottie e seduzi-la, evocando uma memória infantil de um tipo próximo de prazer sensual que ela talvez já tenha sentido, fazendo-a se sentir segura.
Antes de ser concluído o assassinato, Joe e o Chris se encontram no que parece um parque de diversões abandonado no estado do Texas. Chris pergunta: “Que tipo de progresso estamos tendo?”. Automaticamente me parece que não se fala mais apenas sobre o progresso do assassinato, mas também sobre esse progresso que deixa construções gigantes para trás, sem serventia, com um investimento muito alto e que acabam por servir apenas para um curto período de tempo, para lucros apenas de poucas pessoas ao custo do trabalho e envolvimento de uma comunidade maior. Em outro momento, na retirada do valor da apólice, o pai da família encasqueta com uma linha solta em seu paletó, Sharla se irrita e arranca o fio que acaba por soltar toda a manga do paletó, alardeando a falsidade de toda a situação, tanto do paletó que este homem nunca deve ter vestido um terno na vida, como da situação do seguro que nada mais foi do que um crime premeditado escondido num falso acidente mortal.
É um filme estilístico, assim que começa já se percebe seus “desenhos”. A fotografia é fortemente desenhada, a cada cena parece que descobrimos quais eram as intenções de cada desenho de luz, o que se queria mostrar, quais personagens estariam em evidência, o clima da cena, não chega a ser artificial, no entanto acaba chamando atenção para si enquanto elemento de composição do filme. Há certo interesse em aproximar o filme do gênero faroeste, as cenas externas durante o dia tem uma luz dura, marcada, as cores das locações e/ou do tratamento de pós-produção puxam para os tons amarelos, ocre e alguns vermelhos. E o personagem principal, detetive da polícia local do Texas, traja o figurino perfeito: botas, calças jeans escuras, cinto, arma, camisa e um grande chapéu, além de seus acessórios como policial. Sua apresentação é feita de maneira esquemática a la faroeste: nos primeiros takes vemos apenas partes de seu corpo: os pés saindo do automóvel, as luvas ao volante, o desligar da chave do carro, o chapéu no banco, o esconder a arma com o paletó, o colocar o chapéu, numa sequência rápida de planos sucessivos com um rápido zoom quase que como pra tirar um pouco a respiração, como se algo fosse acontecer mas é apenas o ritual desse homem, de cara muito metódico, o qual não podemos ver o rosto de maneira clara. O cão de guarda da casa em que o detetive acaba de chegar é um personagem bastante irritante, late muito para todos os personagens que entram na casa, menos para o detetive, nem chuva cai enquanto Joe, esse é o nome do detetive, aparece, parecendo perceber o perigo que corre se latir para o homem errado.
Todos os personagens acabam por parecer ‘coxinha’, sabe? Tipo a coxinha de frango da cena final. Todos se acreditam muito inteligentes, mas nenhum consegue o que realmente estava buscando.