Felipe Lwe

"Quem tivé de sapato num sobra, num pode sobrá"


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Filme: “Os famosos e os duendes da morte” de Esmir Filho


Acabo de assistir ao filme “Os Famosos e os Duendes da Morte” do Esmir Filho. Assista o filme inteiro aqui! Demorei um tempo pra assisti-lo, fiquei com muita vontade quando ele saiu, mas acabou que eu não vi e vi hoje. O filme é de 2009 e conta a história de um garoto, fã de Bob Dylan, que vive numa cidade do interior na região sul do Brasil. Ele mantém um blog com alguns textos poéticos e na internet assiste alguns vídeos de uma mulher e um homem, são imagens esparsas, sem nenhum sentido fechado, talvez até sem propósito, a não ser aquele de partilhar da sensação que estão experimentando. Quais podem ser as inquietações desse jovem, principalmente com a chegada na cidade do namorado dessa mulher?

Os Famosos e os duendes da morte – Momento em que ficção e realidade são inseparáveis.

A história não se entrega a nós logo de início, os vídeos-poesia se misturam às cenas da realidade, junto a isso os personagens vão chegando e devagar ficamos sabendo quem é quem. O personagem de Henrique Larré, o protagonista, vive com a mãe, o pai faleceu há algum tempo e os avós moram perto na mesma cidade. Seu melhor amigo, o personagem de Samuel Reginatto, está sempre por perto fumando unzinho com ele, a irmã é a moça dos vídeos-poesia, saberemos mais tarde (pelo menos eu entendi isso) que ela junto de seu namorado Julian jogaram-se da principal ponte da cidade num rio, no entanto apenas o namorado sobreviveu e se afastou da cidade devido ao alvoroço que esse acontecimento deve ter causado na época. Todos na cidade, tirando os avós que mantém o hábito de falar em sua língua de origem, um provável alemão, mantém uma certa depressividade no ar, na cidade não há muito a se fazer, praticamente todos se conhecem. O tédio e o ócio fazem parte das casas como uma mobília antiga escondida, sente-se a presença porém não se vê. O rapaz que se jogou da ponte volta para a cidade, vive um tanto isolado, ele representa de certa forma a morte viva, estampada, o desgosto pela vida andando por aí, tamanho desgosto que teria influenciado a garota a pular também. A presença desse rapaz mexe com o personagem de Henrique, sua mãe insiste que ele precisa visistar o túmulo do pai, ele cada vez mais se envolve com os vídeos da garota e seu namorado. Depois de girar, se isolar, ele decide estabelecer contato com o ex-namorado da garota, que está sempre por perto. Tomam um tanto de felicidade, uma bebida bastante amarga que traz no carro e que por sinal versa sobre o fato da felicidade sempre vir acompanhada do amargo, como nada é pra sempre experimentar a felicidade é também experimentar o amargo, eles rumam sem direção com o fusca do rapaz. Entre eles há uma sintonia, de alguma maneira a Garota é o ar que entra pelos pulmões dos dois, é o respiro deles através das imagens dos vídeos postados na internet. Ao chegarem numa rede de distribuição de energia elétrica eles se olham e a garota está entre eles, são os duendes da morte que transformam esses sofrimentos em poesia e dependendo da intensidade com que nos deixamos levar a dor da angústia pode cessar para sempre.

Os Famosos e os duendes da morte - Formalismo no enquadramento.

Formalismo no enquadramento.

Os Famosos e os duendes da morte - Detalhe de Cena

Os Famosos e os duendes da morte – Detalhe de Cena – Fotografia bem planejada

Dentro da obra as cenas de realidade são bastante formais, enquadramentos precisos, a fotografia é milimétrica, estéticamente é um deleite assistir o filme. As cenas de ficção são o oposto, os enquadramentos incertos, a câmera na mão contribui ainda mais com a imprecisão, há sempre uma névoa envolvendo os personagens e as cores puxam bastante para os tons daquele papel furta-cor, rosas e verdes. Talvez a comunicação entre a ficção e a realidade dentro da obra esteja nessa névoa que está presente em termos estéticos na ficção e presente em termos psicológicos na realidade. O ponto alto desse embate acontece na rede de distribuição de energia onde estamos vendo a “realidade” e de repente a estética muda e fica com cara de ficção, dos vídeos-poesia, e agora o que estaria de fato acontecendo? É um momento que não sabemos o que aconteceu de fato, mas aquilo que aconteceu sensorialmente aos dois rapazes. Por não conhecer muito o trabalho de Esmir Filho não posso comparar a nada, no entanto achei bastante madura a direção do filme, o modo como tratar o assunto, nem muito pesado nem muito leve, na medida, como quando nos bate a pergunta “O que que eu to fazendo nesse mundo?”. Os personagens bastante humanos e com várias facetas, é muito gostosa a cena em que o garoto está com a mãe, já bêbada, e se atrapalha com o vinho e os dois riem, a magia acontece naquele momento, como se vissemos algo deles de verdade.

Os Famosos e os duendes da morte - Mãe e filho em manifestação afetiva.

Os Famosos e os duendes da morte – Mãe e filho em manifestação afetiva.

Gosto da trilha sonora, mas acho um tanto repetitiva. Mas ainda não analisei com pormenores o som como um todo no filme. O site do filme ainda está no ar aqui. Tem até um tumblr bem bacana com postagens do filme aqui. Se você gostou da trilha sonora é possível fazer o download de algumas músicas do trilhista Nelo Johann (porém a qualidade de áudio do download nesse link não é muito boa) e agora estou curioso para ler o livro. Quem já leu gostou? Comenta aí embaixo!