Acabo de assistir o filme: “Jan Saudek – V pekle svych vasni, raj v nedohlednu”, de 2007, do diretor Adolf Zika. Este foi seu primeiro longa documentário, assim me parece e em 2012 ele dirigiu um outro projeto que também parece muito interessante: “The Czech land, Your home!”, onde vários cineastas se reuniram e produziram imagens sobre a República Checa atual num tom de questionamento pós Revolução do Veludo ou Revolução Gentil (uma revolução que começou com manifestações populares [assim como as que estão inundando o Brasil de hoje – 2013] e chegou a reunir mais de meio milhão de pessoas na antiga Tchecoslováquia, o resultado foi a deposição do governo comunista e a independência da Repúplica Checa e da Eslovênia). Já no filme que assisti hoje vieram os primeiros questionamentos sobre o estado da República Checa, num dos depoimentos Jan Saudek opina dizendo que as gravatas apenas trocaram de pescoço, talvez tenha sido o mote para Zika se interessar pelo tema e desenvolver o trabalho recém-lançado.
Jan Saudek, veja o trabalho dele aqui, é um fotógrafo que viveu a Segunda Guerra mundial, aos 7 anos de idade morava num porão e a visão de sua janela era um muro. Em suas fotos é explicita a referência à essa época, principalmente as fotos que contém uma janela que ás vezes dá vista para o céu e outras vezes dá vista para outra parede. Em suas fotos percebo dois temas recorrentes: o nu e uma mistura de fragilidade, força e colo. No início do filme sabemos de uma experiência que moldaria seu desejo e sua maneira de viver e ver o mundo, por isso o nu feminino é tão forte em sua obra, mas creio que também existe uma fragilidade desses corpos, seja por armas apontadas, seja pela próprias estrutura dos corpos fotografados, muitas vezes um bebe é retratado nu nos braços fortes de um homem, ou alguém é carregado totalmente entregue nos braços de outra pessoa, demonstrando necessidade de cuidados ou já um desfalecimento.
O documentário é bastante interessante. Baseado em depoimentos de Saudek, algumas sequências chamam atenção. Escolhas comuns conversam com escolhas inusuais, como quando a sombra do diretor conversa com o fotógrafo. Um debate é acompanhado pela equipe de Zika, depois do debate Saudek se isola durante um mês. Isso me faz pensar como os artistas são frágeis às opiniões alheias. De repente um trabalho que ele demorou meses para concluir, que se muniu de uma energia de um objetivo e chega no público de uma maneira avessa. O debate mexeu bastante com ele, na saída do debate é possível perceber isso. O diretor acompanha um ensaio fotográfico de Saudek com uma moça e acontece uma comparação muito valiosa, Saudek abre o saquinho com o filme para sua màquina fotográfica como abrimos uma camisinha, de certa maneira ele encapou a máquina e assim estava preparado para fotografar, isso já explica muito sobre a própria visão de Saudek sobre sua obra, no ponto de vista do diretor.
Me pareceu um documentário bastante sincero do diretor. É difícil defender o ideal de vida do Sr. Saudek e em algumas cenas se percebe claramente que ele mesmo tem certa dificuldade de viver assim, no entanto essas escolhas são ele e é com isso que ele vive. Duas frases me chamaram bastante atenção:
“Não é um belo corpo masculino que me atrai. O corpo não precisa ser “bonito”, caracterizando-se por ser magro e musculoso. Nós somos guiados pelo faro e é por meio disso que me deixo ser levado, e é assim que posso ser atraído pela beleza masculina”
Pergunta o diretor: “Onde está a moral?”
Resposta de Saudek: “Se eu me apaixonasse por um de meus filhos, e o filho sem ser coagido desejasse fazer amor comigo, eu faria…” “Está respondida a questão?”
Me identifiquei bastante com Saudek, não sei direito onde me posicionar em relação aos seus pensamentos e à sua prática, mas gosto de sua liberdade e suas fotos mexem comigo. Conheci Saudek por causa da remontagem de um trabalho de dança contemporânea intitulado: “Íntima visão de um corpo surrado”, de João Pirahy que se baseou em fotografias dele para compor a obra. Estou muito curioso com o resultado desse trabalho e com o prórpio trajeto que farei na busca gestual, e assistir esse filme foi bastante importante para entender melhor a fotografia e o clima desse artista. Quem assistir por favor compartilhe suas experiências, vai me ajudar a compor meu trabalho como intérprete.